Pintor Matheus Chiaratti publica seus poemas e dialoga com o êxtase de Arthur Rimabud em suas telas
Matheus Lopes Quirino
Explorar a imagem em todas as suas vicissitudes é o jogo de um artista que trafega por vários universos: da fotografia à escultura e, mesmo na pintura, com processos em óleo, acrílico a trabalhos feitos pelo bico de uma caneta esferográfica. Refiro-me a uma obra peculiar de Matheus Chiaratti, exposta há alguns anos na galeria Mendes Wood, sobre a trajetória do nu masculino (de 1800 a 2021). Lá estavam Arthur Rimbaud e Paul Verlaine, os amantes mais visados da poesia francesa do século 19. A obra do precoce escritor foi tema das investigações do artista brasileiro em sua residência em Veneza.
A juventude pode ser uma palavra para inquietação. Algo pungente na poesia de Rimbaud, esse espírito buliçoso e aveludado que serpenteia as palavras como se as revestisse de fluidos, exalasse feromônios, com pausas dramáticas para dúvida. Sempre há ela, a dúvida.
O poeta necessita gosto pela investigação. Algo que o francês explorou nos anos com seu amante Verlaine, que inspira processos ainda hoje, como na obra de Chiaratti – das fotografias analógicas, por exemplo, mais uma manifestação artística revelada à luz do Eros, ao seu recém-lançado plaquete literário Firmeentão. Um batismo carnal ou “O mar que rompe as fragatas”.
Pulsão
Essa estética da carne (tão presente em Rimbaud, mas também em Baudelaire, Gide, Apollinaire, só para ficar nos franceses), pode ser mensurada na composição dos troncos que Chiaratti pintou em Pau Lavrado, recente exposição na galeria Quadra, que mostrou as múltiplas faces do artista, com desenhos, esculturas e pinturas – estas últimas, paisagens, fazem referência ao imaginário de sua infância na cidade de Birigui, interior de São Paulo.
Passado o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922, Pau Lavrado poderia ser um apêndice do Pau Brasil, essa figura polissêmica amplamente questionada e repercutida desde o púlpito modernista do século passado. Hoje, essa figura arbórea mostra seus troncos, galhos e copas, prova de que o figurativo ganha potência quando combinado com tintas de afeto, para soar propício à década de 90, como uma cartografia analógica do terreno da infância.
É a natureza pulsante vista pelo olhar construtivo do artista. Essa itinerância por diferentes estilos, mesmo na pintura, apresenta-se como trunfo de uma cabeça aberta a mudanças (haja vista a pluralidade de trabalhos de Chiaratti, com abstrações ao bordado, este visto na individual O Paraíso dos Marrecos (2022) – à época, noticiei a exposição no jornal O Estado de S. Paulo.
Sobre as fotos, Warhol é inegavelmente uma referência, um espírito saudado com as câmeras analógicas e a revelação quimicamente colorida. O ateliê é um laboratório, território livre para imersões, da floresta profunda nas telas às cobras de cerâmica, o imaginário pictórico passa pelos flashs da infância, a juventude macia, como talhou Rimbaud, e a aspereza do homem que se constrói em barro queimado.
Imagem: Matheus Chiaratti. Jambolão (Os Jardins do Pau Lavrado) [the Pau Lavrado Gardens series], 2022
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